sábado, 4 de setembro de 2010

Práticas Devocionais - PRÁTICA DA ORAÇÃO

A prática da oração é a arte de entrar no Santo dos Santos e de se colocar na presença do próprio Deus em espírito, por meio da fé, valendo-se do sacrifício de Cristo, e falar com Deus com toda liberdade por meio da palavra audível ou silenciosa.

A oração parece uma decantada loucura. Como pode o homem comunicar-se com o próprio Deus em qualquer tempo, em qualquer lugar e em qualquer situação, se este é o Senhor de todo o Universo e aquele, um miserável habitante de um pequeno planeta que integra o sistema solar, que por sua vez é somente urna parte minúscula de uma galáxia chamada Via - Láctea, composta de mais de 100 bilhões de estrelas relativamente semelhantes ao Sol? O espanto é muito maior quando se sabe que existem 100 bilhões de galáxias (23 para cada habitante da Terra), além dos distantes e brilhantes quasares!

Mesmo não havendo seres inteligentes senão neste modesto planeta, como pode Deus ouvir as orações diárias que, pelo menos, os 1,6 bilhão de cristãos lhe dirigem? Os críticos dizem que a oração é válida, não porque penetra "até aos ouvidos do Senhor dos exércitos" (Tg 5.4), mas porque é emocionalmente saudável para quem ora. No entanto, aqueles que oram corretamente estão convencidos de que sua oração chega de fato "até à santa habitação de Deus, até aos céus" (2 Cr 30.27). E ainda perguntam com uma pequena dose de malícia: "O que fez o ouvido, acaso não ouvirá?" (Sl 94.9.)

Apesar dessa aparente irracionalidade, a oração é "a mais alta atividade da qual o espírito humano é capaz", segundo o professor E. A. Judce, da Universidade de Sidney, na Austrália. O homem ora porque tem necessidade interior de orar, porque sabe que Deus existe e é "galardoador dos que o buscam" (Hb 11.6), porque precisa de Deus e reconhece que Ele não é semelhante aos deuses da mitologia greco-romana nem aos ídolos, que "têm ouvidos, e não ouvem" (Sl 115.6).

RESULTADOS

Outra coisa estranha, mas óbvia em vista da onisciência de Deus, é que o propósito da oração não é tornar Deus ciente de nossa dor e de nossa necessidade. A oração é o instrumento pelo qual confessamos duas coisas ao mesmo tempo: a estreiteza de nossos recursos e a extrema largueza dos recursos do poder e do amor de Deus. A prática da oração é um dos mais extraordinários meios de graça de que o homem pode dispor. A oração é a outra via de comunhão com Deus. A primeira via é a leitura da Palavra de Deus. Por esta, Deus fala com você; por aquela, você fala com Deus.

É possível classificar em três grupos distintos os efeitos da oração:

1. Resultados psicológicos

Por meio da oração, você pode superar a tensão, a ansiedade, a angústia, certos tipos de depressão, o sentimento de culpa e outros estados emocionais desagradáveis. É perfeitamente possível relaxar durante a oração e depois dela. A oração é uma das alternativas para a ansiedade: "Não andeis ansiosos de coisa alguma; em tudo, porém, sejam conhecidas diante de Deus as vossas petições, pela oração e pela súplica, com ações de graça. E a paz de Deus, que excede todo o entendimento, guardará os vossos corações e as vossas mentes em Cristo Jesus" (Fp 4.6-7).

2. Resultados espirituais

A oração força o exercício da piedade e da disciplina pessoal, ajusta o homem aos padrões de fé e de comportamento. O esquema é muito simples: você ora porque precisa de Deus, mas, para ser ouvido, é necessário que você compareça de mãos limpas perante o Senhor. Ou, pelo menos, que inicie sua prece com arrependimento e confissão de pecado, pois "Deus não atende a pecadores" (Jo 931). Veja a percepção do salmista a este respeito: "Se eu tivesse guardado lugar para o pecado no meu coração, Deus nunca teria me ouvido" (Sl 66.18, BV). A oração bem-sucedida depende de uma estreita união com Cristo: "Se permanecerdes em mim e as minhas palavras permanecerem em vós, pedireis o que quiserdes, e vos será feito". (Jo 15.7.) Pedro chega a dizer que a falta de compreensão entre marido e mulher, o egoísmo de um e de outro e outros problemas conjugais causam orações sem resposta da parte de Deus (l Pe 3.7). Foi a necessidade imperiosa e urgente de ser atendido por Deus, a propósito da aproximação do irmão Esaú e do bando de 400 homens armados que o acompanhavam, que fez Jacó admitir que era um suplantador e deixar-se corrigir por Deus, numa noite de oração do outro lado do vau de Jaboque (Gn 32.22-33.17).

3. Resultados em termos de atendimento

Deus responde as orações de seus filhos, não necessariamente como pedimos, mas a seu modo e de acordo com a sua soberania. Ele é poderoso para, não poucas vezes, "fazer infinitamente mais do que tudo quanto pedimos, ou pensamos, conforme o seu poder que opera em nós" (Ef 3.20). Sem oração você não alcança certas bênçãos. Jesus deixou claro: "Pedi, e dar-se-vos-á; buscai, e achareis; batei, e abrir-se-vos-á" (Mt 7.7-8). Tiago vai mais além e declara com sua peculiar franqueza: "Nada tendes, porque não pedis" (Tg 4.2). A oração tem um alcance enorme: "Muito pode, por sua eficácia, a súplica do justo" (Tg 5.16).

ELEMENTOS DA ORAÇÃO

A maior parte de nossas orações são só orações de súplica. Para muitos, oração e súplica são sinônimos perfeitos. Na verdade não é assim. No contexto bíblico, a oração tem pelo menos seis elementos, que não precisam estar presentes numa única prece, mas devem ser lembrados sempre:

1. Na adoração, você exalta o caráter de Deus, a imensidão, a perfeição e a beleza da criação e de todas as suas obras posteriores, e se delicia com o próprio Deus. A razão máxima da adoração é "porque a sua misericórdia dura para sempre", como declarou em uníssono o povo de Israel por ocasião da inauguração do templo de Jerusalém (2 Cr 7.3) e como aparece repetidamente no Salmo 136.

2. Nas ações de graça, você agradece nominalmente as manifestações da misericórdia, do amor e do poder de Deus em sua vida, na família e na comunidade. Esta é uma obrigação a que você precisa se impor: "Bendize, ó minha alma, ao Senhor, e não te esqueças de nem um só de seus benefícios" (Sl 103.2). Cuidado para não repetir a grosseria dos nove leprosos mal-agradecidos: "Não eram dez os que foram curados? Onde estão os nove?" (Lc 17.17.)

3. Na confissão, você se abre e conta a Deus suas mazelas e fraquezas, pecado de qualquer natureza, admitindo sempre a própria culpa e recorrendo à misericórdia divina. É como disse C. S. Lewis: "Todos nós temos pecados suficientes para sermos intragáveis". Ponha esse lixo para fora na prática da oração. O pecado armazenado é uma desgraça. (Os 13.12.)

4. No extravasamento, você derrama a sua alma perante Deus e fala de seus sustos e medos abertamente com o firme propósito de descansar no Senhor. É nessa hora solene que você entra no santuário de Deus (Sl 73.16-17) para sair de semblante não mais carregado nem triste (l Sm 1.18; Mt 11.29.)

5. Na intercessão, você se exercita no altruísmo e ora em favor do sofrimento alheio, dos problemas alheios e das necessidades alheias, assim como Jesus orou por Pedro (Lc 22.32) e ora por todos nós (Jo 17.20; Rm 8.34; Hb 7.25.) É bom lembrar também que o próprio Espírito "intercede por nós sobremaneira com gemidos inexprimíveis" (Rm 8.26-27). A intercessão não é uma escolha, mas uma ordem: "Orai uns pelos outros" (Tg 5.16). Às vezes pode ir mais longe: "Orai pelos que vos perseguem" (Mt 5.44).

6. Na súplica, você apresenta as suas necessidades pessoais, familiares e comunitárias, costumeiras ou esporádicas, que formam um leque enorme, e clama pela sábia e amorosa intervenção de Deus. A resposta de Deus às vezes tarda, como no caso de Isaque, que deve ter orado vinte anos para que sua esposa engravidasse — tinha 40 anos quando se casou e 60 quando nasceram os gêmeos Esaú e Jacó (Gn 25.19-26). No caso de Zacarias e Isabel, a demora foi muito maior. Quando ela concebeu, os dois eram "avançados em dias" (Lc 1.7, 18 e 36).

O DIREITO DA SÚPLICA

Peça sem constrangimento. Não é necessário substituir a súplica pelo louvor. É Deus quem abre a porta da oração e diz: "Pede-me o que queres que eu te dê" (l Re 3.5); "Invoca-me, e te responderei" (Jr 33.3); "Pedi, e dar-se-vos-á" (Mt 7.7); "Se dois dentre vós, sobre a terra, concordarem a respeito de qualquer coisa que porventura pedirem, ser-lhes-á concedida por meu Pai que está nos céus" (Mt 18.19); "Tudo quanto pedirdes em oração, crendo, recebereis" (Mt21.22) e "Se me pedirdes alguma coisa em meu nome, eu o farei" (Jo 14.14). Se o amigo (Lc 11.5-8), o pai (Lc 11.11-13) e o juiz (Lc 18.4-5), mesmo sendo maus, dão alguma coisa aos que lhe pedem, quanto mais vosso Pai que está nos céus dará boas coisas aos que lhe pedirem (Mt 7.11.)! Porém é preciso tomar alguns cuidados:

1. O motivo das orações deve ser constantemente burilado das tentações do egoísmo e do consumismo. Uma das razões do não-atendimento das orações é porque o objetivo delas está errado: "Vocês pedem coisas para usá-las para os seus próprios prazeres" (Tg 4.3, BLH).

2. Não se deve orar apenas por saúde, cura física, sucesso, prosperidade moderada, felicidade e família. Há certas carências muito sérias que podem ser supridas por meio da oração. Devemos partir daquele aviso de Tiago: "Se, porém algum de vós necessita de sabedoria, peça-a a Deus, que a todos dá liberalmente, e nada lhes impropera; e ser-lhe-á concedida" (Tg 1.5). Se, em seu caso, a carência não é de sabedoria, mas de alegria, entusiasmo, humildade, paciência, amor, poder, pureza, ousadia, capacidade para o trabalho, equilíbrio, fé ou qualquer outra coisa, você tem o direito e o dever de levar insistentemente essa necessidade a Deus em oração. No raciocínio de Tiago, é para pedir o que não se tem. A posse desses valores extraordinários contribui para o seu bem total e para o progresso do evangelho. Esse tipo de oração segue de perto o modelo apresentado por Jesus Cristo, pois santifica o nome de Deus, promove o seu reino e implanta a sua vontade "assim na terra como no céu" (Mt 6.9-10).

O SIM E O NÃO

Deus diz sim a muitas de nossas orações. É animador listar os sins de Deus nas orações contidas na história bíblica. Isaque orou por sua mulher estéril, e Rebeca concebeu (Gn 25.21). Israel clamou contra a dura servidão de Faraó, e Deus ouviu o seu gemido e o tirou de lá com poderosa mão (Êx 2.23-25; Nm 20.14-16; Dt 26.5-9; At 7.34). Moisés intercedeu pelo povo, e o fogo do Senhor, que já havia consumido extremidades do arraial, se apagou (Nm 11.1-3). Manoá orou para que o anjo que anunciou o nascimento de Sansão viesse mais uma vez, e ele veio (Jz 13.8-9). Salomão implorou a bênção de Deus sobre o templo de Jerusalém, e Ele o ouviu (l Rs 9.3). Em vários Salmos, Davi tem prazer em testemunhar que o Senhor ouve as suas orações (Si 4.3; 5.3; 6.8, 9; 18.6; 31.22; 40.1). Ezequias orou ao Senhor por sua doença mortal, e Deus o curou (2 Rs 20.5). Jonas fez uma aflita oração no ventre do peixe, e este vomitou ò profeta numa praia do Mediterrâneo (Jn 2.1-10). Zacarias também orou em favor de sua esposa para que ela fosse fértil, e Isabel lhe deu João Batista (Lc 1.13).

Mas Deus diz não também a não poucas orações, mesmo que elas sejam proferidas por pessoas de cará ter e de fé. Moisés implorou ao Senhor permissão para passar o Jordão e ver a terra da promessa, e Deus lhe disse: "Basta; não me fales mais nisto" (Dt 3.23-29). Apesar de ter sido um homem de oração, Davi orou sentidamente pelo filho recém-nascido gravemente enfermo, e Deus levou a criança depois de uma semana de intensa oração e jejum (2 Sm 12.15-23). Paulo conta que em três ocasiões diferentes implorou a Deus para ficar livre do espinho na carne, e cada vez o Senhor lhe disse não (2 Co 12.7-9). O mesmo apóstolo deve ter orado pela saúde de Timóteo e de Trófimo, mas não há indicação de que eles tenham sido curados (l Tm 5.23; 2 Tm 4.20).

ORAÇÃO E AÇÃO

A oração não elimina a ação, nem esta elimina aquela. Ninguém melhor que Neemias soube valorizar uma e outra, como se pode observar nesta informação do próprio punho do governador da Palestina na época da reconstrução de Jerusalém: "Todos eles procuravam atemorizar-nos, dizendo: As suas mãos largarão a obra, e não se efetuará. Agora, pois, ó Deus, fortalece as minhas mãos". (Ne 6.9)

Dois grandes cristãos do século XVI, um, protestante e alemão, e o outro, católico e espanhol, escreveram frases semelhantes sobre o equilíbrio entre a ação e a oração. O mais velho, Lutero (1483-1546), dizia: "É preciso orar como se todo trabalho fosse inútil e trabalhar como se todo orar fosse em vão". O mais novo, Loyola (1491-1556), afirmava: "Devo orar como se tudo dependesse de Deus, trabalhar como se tudo dependesse de mim".

A FREQUÊNCIA DA ORAÇÃO

Quantas vezes se deve orar? Só aos domingos, na igreja? Todos os dias, na hora de levantar ou na hora de dormir? Somente para dar graças na hora das refeições? Só em caso de fome, doença e morte? A Bíblia tem respostas para essas indagações.

1. Períodos rígidos de oração

Porque a oração é de grande importância e porque o homem é naturalmente indisciplinado, é bom que haja algum horário fixo de oração, como acontece até hoje entre judeus e muçulmanos. Daniel se obrigava a orar de joelhos três vezes ao dia (Dn 6.10). O próprio Davi fazia o mesmo em intervalos regulares de, talvez, seis horas: "À tarde, pela manhã e ao meio-dia, farei as minhas queixas e lamentarei: e Ele ouvirá a minha voz" (Sl 55.17). Em Atos, encontramos duas referências à hora nona de oração (três horas da tarde), tanto no templo (At 3.1) como em casa do centurião romano que absorveu esse costume dos judeus (At 10.30).

2. Períodos especiais de oração

Os horários fixos e diários de oração não dispensam algo como um dia inteiro de oração, uma noite de oração, três dias de oração e jejum (como aconteceu aos judeus que se achavam em Susã na época de Ester), uma semana de reuniões de oração etc. Jesus tinha o hábito de passar uma noite inteira "orando a Deus" (Lc 6.12). Os dias seguintes eram para Ele de grande importância: a escolha dos doze apóstolos (Lc 6.12-16), a cura do jovem possesso (Lc 9.37-43), o encontro com a mulher adúltera (Jo 8.1-11) e a sua prisão, julgamento e morte (Mt 26.36-27.56).

3. Oração conforme a necessidade

Não é preciso esperar a "hora nona de oração" para orar. Você é livre para orar em qualquer lugar, momento e situação. Depende da sua necessidade e de sua vontade. Você pode orar na rua, no trabalho, atrás de uma junta de bois, numa quadra de esportes, ao volante de um carro, numa fila de banco e assim por diante. Neemias é formidável quanto a isto: quando Artaxerxes se dispôs a ajudá-lo e perguntou-lhe como fazer isso, na mesma hora Neemias fez uma oração relâmpago para pedir a direção e a bênção de Deus, sem fechar os olhos, sem se expressar em voz alta e sem sair da presença do rei. (Ne 2.4.) Estando em agonia, Jesus orava mais intensamente ali no Getsêmani (Lc 22.44).

4. Oração contínua

O "orai sem cessar" de Paulo (l Ts 5.17) significa uma abertura total à oração. É como se você vivesse vinte e quatro horas por dia dentro de uma oração. É a manutenção pura e simples do espírito de oração em todas as coisas, mesmo sem se ajoelhar e sem falar. O que caracteriza este tipo nobre de oração é o sentimento constante de suas carências, a per-manente dependência de Deus e a cuidadosa manutenção de uma confiança total em Deus. A oração contínua é mais do que a oração noite e dia daquela viúva de 84 anos que não deixava o templo de Jerusalém e que estivera casada apenas 8,3% de seus dias (Lc 2.36-37).



Autor: Elben M. Lenz César

Nenhum comentário:

Postar um comentário

Compartilhe

Leia também

Related Posts with Thumbnails